quinta-feira, agosto 27, 2009

Possível

E a cada esquina, tantas possibilidades
A cada escolha, inúmeras consequências
Vês aquel industrial? Poderias ser ele
Vês aquele mendigo? Aquele pai com a criança à mão?
A dama empoada que anda com pressa.
Poderiam ser qualquer um de nós.

Alguém salta dum prédio
Sentes sua dor?
É nossa também
Pois se somos o resultado de cada escolha feita
Outras escolhas resultariam em outras pessoas
Afinal, o que nos afasta daquela senhora
Ziguezagueando enquanto vira a esquina
Praguejando em voz alta contra sua má-sorte?

Isabelle
26/08/09

"Possível", ou "O que fazer durante uma aula tediosa de Brasil Império"
Alguém mais reparou o quanto tem sido recorrente nos meus poeminhas a temática da escolha, das possibilidades e da fragilidade do real?
Como historiadora que sou, não posso deixar de pensar que o passado tem total responsabilidade sobre o que somos. E como geminiana, nem um pouco predisposta a gostar de fazer escolhas, tenho que aceitar que não posso me isentar delas.
Sinceramente, não me agrada essa poesia, mas gosto da minha intenção inicial com ela, o que já é meio ponto. Realmente acredito que poderíamos ser qualquer outra pessoa, bastando para isso escolher um caminho ligeira ou drasticamente diferente.

terça-feira, agosto 25, 2009

Quem construiu as sete torres de Tebas?
Nos livros estão os nomes dos reis.
Foram os reis que arrastaram os blocos de pedra? ...
Para onde foram os pedreiros na noite, quando ficou pronta
a Mu­ralha da China?
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Ele sozinho?
César venceu os Gálios.
Não teria consigo um cozinheiro ao menos?
Filipe da Espanha chorou, quando a armada se afundou.
Não havia outras lágrimas?
Frederico II venceu na Guerra dos Sete Anos —
Quem venceu com ele? ...
Cada dez anos um Grande Homem.
Quem pagou as despesas?
Tantos detalhes.
Tantas perguntas.

Bertolt Brecht
trecho de poema
(Tradução de Paulo Quintela, com ajustes meus)

sexta-feira, agosto 21, 2009

Incrível.
Tenho tido surtos de inspiração. Terminei finalmente poemas cujas idéias centrais pairavam em minha mente há anos. Com o tempo coloco um ou outro aqui.

Ancestral

Uma sombra difusa
Um vulto
Será mesmo?
Sim, lá está ela
De calça jeans e camiseta.
Uma lembrança apenas
A lembrança da menina que fui
Obrigada, querida
Obrigada por cada momento que viveste e viverás
Sou tudo aquilo que desejas? Não
Se me arrependo? Também não
Aconselharia-te a sorrir cada sorriso que sorri
Chorar cada lágrima que chorei
E conhecer cada amigo que conheci
Mas a realidade é tênue
Podes ser quem quiser
E cada possibilidade é perfeita
Pois vivemos no melhor dos mundos possíveis
Agora vai
Vai, vive e não olhes para trás
Quem sabe um dia
Encontramo-nos outra vez

Isabelle
21/08/09

Somos resultado do que fomos. Mas não somos a mesma pessoa que fomos. E nunca voltaremos a ser. Mas sem dúvida devemos muito àqueles que fomos há um dia ou 1 milênio atrás.

domingo, agosto 16, 2009

Ilusões

Enfrentei o acaso
Era jovem, não sabia.
Tentei vencê-lo com sonhos
Espadas de papel, castelos de cartas
Sem equilíbrio, desmoronaram
Frente a meus olhos assustados
Sonhos de um futuro que não mais existiria.
Transformei-os em planos,
Tolamente acreditei conseguir assim
A solidez necessária
Castelos de areia
Sem fundação, esfacelaram-se
Entre meus dedos trêmulos
Planos para um destino que jamais pôde existir
Desiludida, converti-os em certezas.
Iludi-me pensando ser capaz
De fixar em concreto
O futuro.
Inutilmente tentei
Vencer o acaso
Lográ-lo em seu próprio jogo
Apenas para assitir minhas certezas ruírem
Certezas de uma posteridade inexistente.
Aprendi uma lição, espero
Se o acaso é meu mestre,
Pouco adianta negar
Resta-me, desiludida, aceitar
E oferecer ao Caos
Meus sonhos, meus planos, minhas certezas
E quem sabe assim,
Ao cair da noite, manter um pouco de todos eles.
Assim, aceito-o como guia.
Até a próxima batalha
Em minhas fortalezas de algodão.

Isabelle
16/08/09

Um bom resumo de como uma romântica inveterada lida com suas decepções ao longo da vida.
Desilusão, decisão de não mais se machucar, não mais planejar, não mais sonhar, situações comuns na vida desses românticos crônicos.
Até a próxima vez.

segunda-feira, agosto 03, 2009

Explicações

A vida clama a explicação.
Se não há porquê, não há razão.
Não há razão de ser.
Mas nem tudo tem de ser assim.
Querem descobrir a razão de tudo
Para tudo deve haver uma explicação.
Genética, astronomia, física quântica, neurologia.
Todas em busca das mesmas explicações coerentes.
Racionalizando o mundo
Matando a magia
Destruindo a fantasia
Um dia conseguirão.
Explicarão o último grande mistério da vida.
Matarão a última fada.
Quem colorirá o mundo então?

Isabelle
03/08/09

Nota mental: achar o dicionário.
A repetição infindável das palavras "razão" e "explicação" me incomoda. E a você? De resto, esse poema me agrada. Sim, a eterna luta entre ciência e misticismo está decidida. Ciência wins. Mas será isso necessariamente uma boa coisa?