sábado, outubro 09, 2010

Rastros

A verdade?
Apago meu passado.
Rasgo poemas,
Jogo fora desabafos
Devolvo fotos
Doo presentes
Nego lembranças.
Para que o passado
Não interfira no presente
Tolice!
Pois resulto de cada poema
Cada bilhete, foto, presente e lembrança
E se apago registros,
A memória é indelével.
Erros e acertos
Marcados a cinzel.
Tão exatos quanto sempre.
Enquanto tento cobri-los com poeira
Sufocá-los em cinzas.
Nego o passado
Mas o passado não me nega
Pois sou seu resultado exato.

Isabelle
09/10/10

Fim da ciranda

E a dança entorpecedora
Por fim cansa,
Ofegante.
Uma pausa dentre as músicas.
Enquanto tenta retomar o fôlego
Pés doloridos
A cabeça estonteada
Braços úmidos
Face ruborizada
E, acima de tudo, cansada
Não deseja mais girar nem rodar
Perdeu o compasso
Pisou seu próprio pé
Anseia apenas por uma cadeira
E paz.
Uma noite de sono, talvez.
Acordar
E descobrir-se descansada.
Este baile terminou.
Ao menos para esta bailarina.

Isabelle
08/10/10

Urso

O passado parece falhar.
O futuro, nada oferece.
Paradigmas quebrados
Certezas questionadas
A verdade que há tanto tempo sustenta,
Negada.
Voltar atrás? 
Impossível.
Seguir em frente?
Para onde?
Desesperar-se?
De que adiantaria?
Parada, no mesmo lugar
Esperando que a dor um dia desapareça
Quieta, muda.
Se não fizer barulho,
Quem sabe vai embora?
A dor que sabia-se grande,
É, em verdade, paralizante.
Sem reação,
Torcendo para que passe adiante,
Fazendo-se de morta.

Isabelle
08/10/10

Cera derretida

Enquanto a realidade esmaece,
Pesam minhas pálpebras.
O mundo derrete
Sua verossimilhança ameaçada
A verdade, mero balão de gás
Flutuando, afundando, errático
Por um plasma de possibilidades

Isabelle
12/08/10

quinta-feira, setembro 02, 2010

Poema às avessas

Fosse um outro poema,
Eu cantaria o amor,
Eu cantaria a paixaão,
Cantaria a amizade ou a beleza do mundo.

Mas este poema,
Diverso de tudo anterior,
Não canta a beleza ou a felicidade.

Qual corvo, que antecede a desgraça
Este poema conta a tristeza, a infelicidade.
Conta o sofrimento,
Conta o que há após o fim.

Não só a não-aceitação do fim.
(embora ela também)
Mas a dor pior que o desepero.
A indiferença, o esquecimento.

A escolha de memória e o incômodo inerente.
A dúvida primordial.
Serei louca ou penitente?


Isabelle
01/09/2010

quinta-feira, maio 27, 2010

Criação

Há certa ligação
Branda que seja
Entre crença e criação.
Tente criar
Sem acreditar
Em sua arte.
Impossível!
A arte que muda a vida
Colore, encanta e faz refletir
Surge apenas para os apaixonados.
Aqueles que amam sua arte de corpo e alma.
E quem ama, crê.
E cria.
Ou morre.
O amor ou o amante.

Isabelle
21/09/09

Sinceramente não gosto deste poema. Há um certo nó lá no meio dele que jamais fui capaz de limpar, de desatravancar. Mas relendo recentemente, os últimos três versos me causaram uma boa impressão. Por isso ele está sendo postado.Quem sabe se saindo dos confins de meu caderno ele não encontra uma solução?

quinta-feira, março 25, 2010

Ao Cair do Véu

Conhece meu interior
Não tenho defesas contra ti
Teu olhar desarma-me,
desnuda-me
Inundada de ternura e paixão,
Fico diante de ti
Sem temor
Minhas imperfeições e deformidades visíveis,
óbvias à luz do dia
Ofereço-me a ti
Tal qual sou.
Sem véus
Apenas eu.
Pequena e feia,
Medrosa
Mas inteira, completa e repleta.

Isabelle
08/03/10

Sim, naturalmente não gosto de como ficou este poema. Essa mania de usar tu em vez de você parece tornar  tudo que escrevo um tanto artificial. E o último verso decididamente me desagrada. Mas sem dúvida alguma gosto do que ele representa, da intenção por trás dele e das verdades que ele diz.