segunda-feira, setembro 14, 2009

Hipocrisias ritualísticas

O ser humano é um bicho estranho, sabia? Temos necessidade de rituais. E é justamente isso (historiadora que sou) que me encanta no Antigo Regime. A sociedade toda é uma sociedade ritualística. Festas, jantares, procissões, até mesmo o lugar onde cada um sentava na igreja, tudo fazia parte de uma lógica litúrgica bem própria. Mas um detalhe importante torna isso tudo tão interessante: nesses "rituais" a sociedade mostrava-se tal qual era, sem tentativas de fingir um status inexistente.

E é justamente isso que me incomoda em certos rituais da nossa sociedade contemporânea. O casamento, por exemplo: o casal se conheceu num baile funk, transaram no 2º encontro e mesmo assim a noiva se casa de branco e dançam valsa na festa. A troco de quê? Provavelmente branco é uma cor que não cai bem nela, por que não se casar de azul? Por que a valsa, dança que nunca dançou e provavelmente nunca voltará a dançar? Por que não dançar forró, que por sinal, o noivo dança muito bem?

Ou então, (e essa é a razão deste post) a formatura. Fazemos história numa universidade federal, passamos os últimos 4 anos indo de camiseta, calça jeans e chinelo para a faculdade, pisando em paralelepípedos irregulares, sentando na grama pra conversar, matando aula dormindo no tablado, fazendo churrasco numa grelha suja, fumando maconha nos fundos do prédio (não todos, lógico) e bebendo cerveja em copo descartável no bar em frente ao campus. Por que agora, na reta final querem festa com traje esporte fino, alugar salão de clube, contratar fotógrafo para fazer book... enfim, pagar caro para beber mal, comer salgadinhos requentados, usar roupa desconfortável e sapato que machuca o pé? Desculpe, mas dispenso. Acho sim que devemos comemorar o fato de termos saído da faculdade, termos terminado nossas monografias com êxito, nossa entrada efetiva (com sorte) no mercado de trabalho. Mas não sou a favor de comemorar isso hipocritamente, de uma forma que não signifique nada para os univesitários que fomos. Comemoremos em alto estilo. Bebida, comida, amigos queridos, nostalgia, micos, tudo que tivermos direito. Mas sem negarmos o que somos. Ou alguém pensa que simplesmente por nos formamos deixamos de ser o que somos?

Faltando um ano para nossa formatura, meus queridos colegas de turmas começam a se movimentar para a organização de uma festa de formatura. As propostas são muitas, grande parte delas contraditórias. Visões diferentes de mundo, idéias diferentes quanto ao significado da data. Acho pouco provável um consenso. Mas uma vez que sou a única a enxergar isso por ora, recolherei a meu silêncio, conforme as discussões evoluírem acredito que mais pessoas concordarão comigo, ou eu me provarei errada. Em todo caso, esperarei em silêncio o desenrolar dos fatos vindouros.

3 comentários:

Bella disse...

Ao menos vc vai ter festa de formatura!!!
Mas se voce quiser tb vc pode me acompanhar num cruzeiro de formatura q é o que eu pretendo fazer ja que nao vou ter nada de comemoração

Anônimo disse...

Obrigada pela visita.
Bem como sempre fui uma fudida na vida e nunca tive um momento de gloria, a formatura a principio sera um momento magico para mim.
Mas a sua forma de pensar tem muita coerencia.

=)

Belle disse...

eu estou tentando tranformar a dupla festa cara + sapato desconfortavel num fim-de-semana num sítio, com tudo que se tem direito.

Desejem-me sorte.